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Jogo feio todos os dias não dá

Ainda me lembro da final em que o RS era representado pela Pitt/Corinthians... Esperávamos que a Band transmitisse, mas não ocorreu. Como apaixonado, me serviu ouvir a transmissão via rádio e assim acompanhei o sucesso de Santa Cruz do Sul e de Ary Vidal.
Anos depois surge tv a cabo e com ela a ESPN e o SPORTV. Passamos a ter acesso a jogos de São Paulo, Rio de Janeiro e alguma coisa do campeonato brasileiro. Estava ali, grudado na tela, mesmo que assinar TV a cabo nessa época era caro, muito caro. Ter os dois canais da ESPN exigia um conjunto de canais que encareciam o pacote. Mas o que não fazemos pelo amor ao basquete?
Acontece que, hoje, não corro mais do trabalho para casa para ver jogos do NBB. Seria pela concentração de jogos dos mesmos times? Creio que não era esse o motivo... E quando é NBA, na ESPN ou no Space, chego a assistir um pouco, mas sem a mesma paixão de outrora, mesmo que as movimentações e disputas da NBA me satisfaçam mais que as do basquete brasileiro. Deixo para o Chico Assis ver com olhos de analista e vejo com alegria alguns lances, junto com o caçula, outro apaixonado pelo basquete – e sinceramente rogo que ele veja um basquete melhor do que esse que temos.

Mesmo que na atualidade alguns técnicos busquem o jogo com dois armadores, o jogo está poluído por estrangeiros e, mesmo assim, o basquete brasileiro me parece feio – mesmo com a melhor imagem que a alta definição pode oferecer... Deveria ser ao contrário: os “grandes” jogadores americanos que aportam por aqui, não contribuem em nada ou muito pouco para atrair público. Mostram que possuem mais fundamentos, mais técnica e conhecimento tático que os brasileiros nos primeiros meses e depois... Entram no ritmo local, fazendo um joguinho previsível, mas que mesmo assim lhe dá resultado pessoal, mas agrega quase nada para o basquete brasileiro.
Enfim, o jogo é feio. E é isso que me incomoda. Várias vezes os comentários são horríveis e o som do pedido de tempo debitado é lamentável – não por sua qualidade, mas pela qualidade do que sai da boca de alguns técnicos... Quanto aos comentaristas, vejo que tentam salvar a transmissão e manter a audiência, pois isso garante a manutenção do basquete e contribui para o crescimento. Mas o nível técnico é triste...
Não sei, me parece que temos milhares de coisas para mudar e os artistas que deveriam proporcionar isso estão engessados e sem criatividade. E é uma de armador perder o drible quando atravessa o centro da quadra, pivôs errando embaixo da tabela, a continuidade da jogada França e suas derivações, excessos de bloqueios legais (corta-luzes) na cabeça do garrafão, jogo interno fraco ou exageradamente violento (violência contra o outro jogador) e os arremessos de 3 pontos que levam a médias de acertos abaixo de 30%.
Olha, um parêntese cabe aqui, pois não sou contra o arremesso de 3 pontos, mas o cara tem que treinar duro para ter um índice de acerto satisfatório. Eu sei disso, tinha um percentual de acerto bem grande nesse fundamento pois o treinava insistentemente – e falando sério, mesmo em jogo, achava um lixo ter menos de 60% de acertos e os caras saem felizes de quadra com 35%, 25% de aproveitamento nesse aspecto.
O jogo precisa mudar. Não dá para ver as mesmas coisas por mais tempo. Precisamos de mais liberdade. Precisamos de mais criatividade em nossas quadras, nos dribles e nas movimentações de nossas equipes. É o que tenho refletido muito no último ano...

Comentários

Anônimo disse…
Barbaridade... é leitura de pensamento... Concordo 200% com este artigo. Esses dias atrás estava vendo no Sport TV o nosso basquete, e pensando: "como é chato e feio esse nosso basquete"... Jogadores lentos, somente arremessos de fora... nada de jogadas. É muito amador, senão por uma ou duas exceções. Infelizmente...
dom0014 disse…
Concordo com o artigo. Infelizmente o que se vê de jogador estrangeiro amarrando jogo hoje em dia no NBB não tem explicação. E a falta de qualidade beira o ridículo. Depois querem ver seleção fazendo bonito em Olimpíadas e Mundiais..
felipe disse…
Vejo com um grande problema o número de equipes que disputam o NBB, são 17 ao todo, sendo que muitas delas nem pra coadjuvantes servem. No meu entendimento, deveria ter 12 equipes, no máximo 14, tomando como exemplo o vôlei brasileiro. Equipes fortes, bons elencos e ginásios que apresentam uma "boa aparência" para as transmissões da televisão, somente são possíveis com um campeonato bem organizado. O excesso de equipes prejudica o campeonato.
Além disso, atletas estrangeiros deveriam ser 2, no máximo, por equipe. Times com três jogadores estrangeiros jogando como titulares servem como aberração pro futuro do esporte no Brasil.
Anônimo disse…
Olá pessoal! Me chamo Michel.

Gostaria de expôr aqui a minha visão sobre o assunto. Espero que não levem isto como critica a ninguém, apenas como um ponto de vista diferente para refletirmos.

Sou do RS, e atualmente sou treinador de basquete em Portugal (categoria sub-20 masculinos). Aqui há uma filosofia de jogo muito diferente da nossa aí. Mas isto não vem ao caso agora, o que quero colocar é os países aqui tem filosofia de jogo, ou seja, um estilo no qual a grande maioria das equipes jogam. Numa entrevista recente com o treinador do Brasilia (Sergio Hernandes), ele expôs que o jogo brasileiro (o atleta também no caso)é mais individualista, mais voltado para o talento individual do que o argentino por exemplo, que é mais coletivo. E que isto se deve ao potencial físico (temos pivôs de 2,10m facilmente, enquanto na argentina só há um ou dois mais altos que 2,05m.
Portugal atualmente tem como referência na formação de treinadores o Moncho Lopes (espanhol que treinou a seleção da Espanha de2002 a 2003, sendo auxiliar em outras épocas). Ele coordenou a organização dos cursos de treinadores (grau I, II e III) e hoje em dia todo treinador novo segue mais ou menos a mesma filosofia de trabalho.
No Brasil não temos isto, e se temos talvez seja só em São Paulo.
Portanto o nosso basquete é talentoso, habilidoso, tem garra e penso que tem potencial para voltar a ser um dos melhores do Mundo (inclusive aqui na Europa, com todo mundo que converso, afirmam que o basquete o Brasil é muito bom pois temos jogadores excelentes).

O QUE NOS FALTA É ORGANIZAçÃO, temos que nos organizar e criar uma identidade de jogo. Se for para ser no estilo americano, que seja, mas todos juntos trabalharemos para desenvolver um basquete com a mesma cara. Cada um falando línguas diferentes e atirando para lados opostos, creio que não se vai longe.
Quanto aos estrangeiros, a NBA só é o que é porquê junta os melhores do mundo. Os Spurs tem mais de três estrangeiros dentre os principais jogadores. O FC Barcelona também. E muitas vezes estes estrangeiros só fazem o feijão com arroz, mas são imprescindíveis para os resultados da equipe.

Super abraço a todos, continuemos a batalhar pelo nosso amado esporte.
Pessoal, o sentimento de mudança está em todos nós. O relato do Michel, brasileiro trabalhando na Europa é sensacional, mas eu vou discordar do estilo único de jogo, por que o Brasil é continental... Argentina, Portugal, Espanha são países pequenos, com facilidade de manter o mesmo padrão. Aqui só os cursos básicos não seriam suficiente para tal proeza e teríamos que ter formação continuada permanentemente. Agora, já tá sendo difícil impor a ENTB, imagina mais cursos, anualmente, em todo o país.

Outro argumento que utilizo é a criatividade do jogador brasileiro. Padronizado, vamos ficar igual ao futsal - e neste esporte minha maior alegria foi ver meu filho que, com 11 anos, não tinha passado por escolinha e foi jogar, pois tinha o talento de jogar na rua e na escola e no time do clube, enlouqueceu os adversários, pois saia do padrão de movimento que crianças de 11 anos estavam viciadas... Fez muitos gols!

Portanto, a organização citada pelo Michel e o trabalho árduo nos fundamento já me bastam como caminho para elevarmos o basquete. Mas até isso tem sido difícil de concretizar...

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