Lembro de uma vez que, jogando pela minha categoria, fomos a Cachoeira do Sul. No alojamento, na noite anterior, fizemos aquela zona, tênis voavam e minha voz ecoava, pedindo o final daquela bagunça, ao mesmo tempo em que devolvia os tênis que chegavam ao meu beliche. Marramarco falou, pediu, explicou e nada. De repente a porta se abriu e saiu o Coach com seu colchão para o corredor. Silêncio e gargalhadas. Não percebemos o que ocorrera ali. Na manhã seguinte nada de bom dia, nada de sorrisos e conversa sobre o jogo. No aquecimento percebi o que me esperava: os três que tinham suas vozes ecoando no alojamento ficaram no banco, inclusive eu. Ah, como queria jogar aquele jogo, como queria pontuar um pouco, pois vinha de uma fase no banco do juvenil e somente passando bolas, organizando as jogadas para os arremessadores e pivôs no adulto, quando jogava e, aliás, jogava mais que no juvenil. Engraçado, né?
O basquete passou em Bagé e Marramarco era R2 no exército, justamente onde servi. Foi meu padrinho na passagem de recruta para soldado. Arbitrou minha final de JERGS no mesmo ano. É meu amigo até hoje. Earvin “Magic” Johnson homenageou seus técnicos quando recebeu um dos tantos MVP´s de sua vitoriosa carreira. Lá estrelas de décadas passadas fazem parte do hall da fama e tem tapete vermelho ad eternum. Aqui, como vi uma vez com um jogador de futebol, mostram o caminho da bilheteria para o atleta. Marramarco sempre terá tapete vermelho em minha casa e um lugar permanente no coração. Mais que um técnico, mais do que ver o meu talento (eu me achava talentoso e daí?) e usá-lo para vitórias, ele se preocupou com a formação do homem e me ajudou a passar por muitas bifurcações escolhendo sempre o caminho da verdade, do trabalho e da ética. Está bem, nem sempre faço as coisas cautelosamente, mas nem por isso sou anti-ético ou trapaceiro.
Hoje o basquete gaúcho não tem mais o talento do Marramarco na beira da quadra, formando homens através do esporte — não pensem que ele não teve participação na formação de grandes atletas e não obteve resultados positivos com suas equipes. Provavelmente desiludido, o Marra foi para o campo acadêmico, formar professores de educação física e, com certeza, a UCS (www.ucs.br) fez uma grande aquisição ao contrata-lo no início deste ano. Lá, na formação inicial e em serviço, é os lugar onde grandes homens e educadores devem estar. Ainda jovem, tenho certeza de que contribuirá por muitos anos com o surgimento de novos e competentes professores e bacharéis em educação física.
Mas e o basquete? Se o caro leitor não percebeu, falei de basquete, muito mais do que escrever sobre parcos recursos, a necessária e urgente mobilização em prol do nosso esporte ou ainda sobre a perspectiva de desempenho de nossas seleções no Pan-Americano. Pensar nas ações e posturas de um atleta como Earvin “Magic” Johnson e falar de um técnico como Cesare Augusto Marramarco é lembrar lições que podem nos conduzir a idéias novas, oxigenadas e capazes de serem estimulantes de novos tempos.
P.S.: a foto é a equipe Mirim da FAT/FUnBa e o técnico é Cesare Augusto Marramarco.
Comentários