A base é que me preocupa. Mas o mundo todo privilegia o alto rendimento de adultos. A categoria adulta é o espelho do que poderás fazer e superar, já diziam quando eu era atleta. Eu penso que sim, são o espelho, mas é a base que atende nossos jovens, que lhes proporciona uma atividade desportiva saudável e lhes direciona para serem líderes nos segmentos que forem seguir. É assim nos Estados Unidos onde os ex-atletas universitários jogaram na NCAA e, posteriormente, seguiram suas vidas assumindo funções em empresas, em escritórios próprios ou até mesmo em outros países, mas longe do esporte ou vinculado ao mesmo pela prática prazerosa e não mais competitiva.
Pois bem, eu sou contra um técnico estrangeiro. Quiçá eu esteja errado e o Magnano (e o possível técnico do feminino para facilitar o retorno de Iziane) agregue valor para o basquete brasileiro, mas fico me perguntando: que valores Moncho deixou para os técnicos de Ji-Paraná e do Chuí? Não vejo nenhuma vantagem para estes técnicos – vamos pensar sempre no tamanho do Brasil e não apenas no centro-oeste.
Nós temos outros exemplos de técnicos estrangeiros e talvez sejam esses que a CBB esta seguindo em um momento de transição, muita pressão e de necessários resultados, mas devemos aprender com eles. Vejamos:
ü a Confederação de Ginástica trouxe técnico e auxiliar-técnica, deu um salto em resultados e criou uma seleção permanente (já desmontada). E a massificação da ginástica no país, ocorreu? Pelo pouquíssimo que acompanho até clubes que eram referência tiveram redução, por conta da seleção permanente que, se desmontada, mostrou-se um fracasso;
ü o Handebol tem participado dos jogos olímpicos nos últimos anos, tanto no masculino como no feminino. Os técnicos são estrangeiros, dinamarquês no feminino e espanhol no masculino. E a pergunta é a mesma: cadê a massificação do esporte no país? A formação de técnicos foi consumada? Basta ler o número 3 da Revista da ESPN para ver que estamos entre os 10 melhores do mundo e ficamos nisso, mesmo sendo o Handebol o esporte mais praticado nas escolas depois do futsal, segundo a mesma matéria;
ü o voleibol foi construído com técnicos brasileiros. Com suas limitações e dedicação ao trabalho, foram aprendendo e construindo a própria reputação. Hoje são eles o espelho para técnicos de outros países, a confederação se estruturou, possui um magnífico centro de treinamento para abrigar todas as seleções e desenvolve a formação de técnicos, como também envia “olheiros” em várias partes do país, nas mais diversas competições. O que buscam? Biótipo para o voleibol. Não buscam talento aos 15 anos, mas biótipo...
Portanto, eu continuo a favor de técnicos brasileiros no comando das seleções, adultas e de base. Mais que isso: a contratação de técnicos estrangeiros tem que ter objetivo imediatista, ou seja, conquistar as vagas olímpicas e contribuir – nesses 12 meses que ficará/ficarão no Brasil – com a formação de técnicos brasileiros. Agora, no Rio-2016, no banco das seleções temos que ter técnicos brasileiros comandando nossas seleções. Como fazer isso?
Bem, não temos técnicos incompetentes ou inexperientes, mas precisamos pensar seriamente em renovação no comando das seleções, formação de novos talentos – temos vários no Paulista e na NBB. Sendo assim, eu sugiro que a CBB escolha 5 técnicos brasileiros para o masculino e 5 para o feminino e lhes ofereça uma complementação profissional, que seria a participação em clínicas internacionais, acompanhamento de competições em países diferentes da Europa (Espanha, Itália, Grécia, Iuguslávia, Itália, etc.) e Estados Unidos (NBA, D-League, NCAA). Parte do tempo no exterior, parte do tempo no Brasil, dirigindo as suas equipes no NBB, contribuindo com a Escola de técnicos e ministrando clínicas para os técnicos das seleções de base e para os técnicos nos estados – esse seria um grande retorno, centralizando eventos nas capitais facilitaria e aumentaria a participação de técnicos, principalmente se essa participação valesse pontos para o participante quando cursar a Escola de Técnicos.
Imagino esse processo iniciando em julho desse ano até dezembro de 2012, totalizando 30 meses, duas temporadas de NBA/WNBA, um mundial, uma olimpíada, um europeu e inúmeras clínicas pelo mundo. Depois a CBB escolheria um para ser o Head Coach e 2 para serem assistentes. Os 2 que sobrassem iriam comandar as equipes de base do país e continuariam ministrando clínicas. Esse já seria o primeiro trabalho para o ciclo 2013 a 2016 e, provavelmente, para 2020. Brasileiros a frente de nossas seleções.
Não vamos falar de recursos para isso, pois sabemos que com a Eletrobras e o reforço que pode ser buscado nas diversas leis de incentivo ao esporte (estaduais e federal) esse é o menor dos problemas.
Vamos aproveitar o Magnano, sugar o que for possível para o crescimento de todos nós e de nosso basquete, mas vamos pensar no futuro do basquete brasileiro. Temos exemplos de que técnicos estrangeiros vem, reforçam a conta bancária e se vão sem deixar algo significativo para o país. Ir a Londres é importante, para a auto-estima, mas é preciso pensar além disso e não esquecer que a vaga de 2016 é garantida, mas que em 2020 voltamos a disputar uma vaga com as grandes seleções do mundo e precisamos aproveitar o Rio-2016 para massificar e formar atletas e técnicos para o futuro de nosso basquete.
Essa é apenas uma idéia para que o alicerce seja construído. Mesmo que outras idéias sejam preferidas e colocadas em prática não podemos esquecer que a casa começa com a base. E também não vamos esquecer que 2020 é logo ali...
Comentários