A coisa mais importante nos Jogos Olímpicos não é vencer, mas participar, assim como a coisa mais importante na vida não é o triunfo, mas a luta. O essencial não é ter vencido, mas ter lutado bem.
Lutado bem. Esse é um dos pontos que o nosso basquete tem se esquecido da famosa citação do Barão Pierre de Coubertain. Lutar bem. Vamos juntar ao juramento olímpico “para honra das nossas nações e para a glória do desporto”.
Nada me convence que essa convocação não é pró-Brasil, ela é pró-basquete, ou seja, a tal chapa de oposição que hoje é situação na CBB. Também não gosto das análises que transformam a convocação de Larry Taylor como consequência da falta de armadores – o trabalho da CBB por naturalizar o atleta já demonstra que o que importa é ir a Londres para dizer que esta tudo bem.
Ainda sobre os armadores, essas posturas jogam a culpa nos que existem, os desqualifica e tira de nosso colo, técnicos e dirigentes, a responsabilidade pela deficiência técnica na tal posição. Se é que ela existe, é por que não fizemos o dever de formar e, nesse sentido, precisamos assumir uma postura de mudança e não desqualificar os jovens que nós mesmos formamos. Aí resiste todo o problema: os clubes que desenvolvem um forte trabalho de base, de formação, de conceito de jogo e de fundamentos, estão sempre se destacando em competições. Um exemplo: não adianta um Jason Kid, tentando organizar o ataque se, os demais colegas, não souberem jogar sem bola, apenas posicionar-se na linha de três pontos a espera do final dos 24 segundos por que, nesse momento, a bola chegará neles.
O problema não é o armador. É o conhecimento do jogo e o nível dos fundamentos do atleta brasileiro. Lembrem-se do Paulo Murilo dizendo que, no início, tentaram reclamar do trabalho com fundamentos e exercícios básicos que ele desenvolveu no Saldanha da Gama. Resultado?
Portanto, ao focarmos toda a nossa má fase em uma posição, estamos dizendo que "Magnano é o cara, nós somos incompetentes", em função da convocação equivocada de Larry Taylor. Não creio nisso. Não creio que os técnicos que se manifestaram na contratação do Colinas se sintam assim ou sejam incompetentes. Desprestigiados eles se sentem, todos nós que trabalhamos a beira da quadra nos sentimos. E, dessa forma, não dá para crescer e contribuir sem o reconhecimento do que se conquista nas quadras tupiniquins.
Repito o que tenho dito pelo twitter e em outros fóruns: estamos sendo imediatistas, grandes articuladores do basquete estão pensando no amanhã (Londres) e esquecendo-se do depois de amanhã (Rio 2016) e do futuro (2020, 2024…).
Dar espaço, oportunidade, formar quem esta na posição e se dedica no dia-a-dia é um dever da CBB para ter quem represente o Brasil sendo brasileiro. Larry Taylor não é 1 milésimo brasileiro como (H)Akeem Olajuwom (chegou nos EUA em 1980 e só jogou na seleção em 1996!) e Pat Ewing (foi morar para os EUA com a família aos 11 anos e só aos 22 anos jogou na USA Basketball) são americanos.
Podemos falar de Serge Ibaka, que é um refugiado da II Guerra do Congo, quando perdeu a mãe e o pai foi preso - seus pais foram jogadores da seleção da República (Democrática) do Congo. Jogou na Espanha por quatro temporadas de 2006 a 2009, de junior, passando por LEB Oro e ACB, dos 15 aos 19 anos, na pior fase da vida, passagem da adolescência para a vida adulta, órfão de mãe e com o pai preso. Aos 19/20 anos foi para a NBA... Alguém tem alguma dúvida que ele é espanhol, por adoção e gratidão, não por comércio?
Outros casos foram analisados pelo Giro no Aro, quando fala de Chris Kaman e os princípios “ius solis” (EUA) e “ius sanguinis” (Alemanha). Também citam como outras seleções estão recheadas de estrangeiros. Leia mais nesse link do Giro no Aro e leia também os comentários que demonstram além do que nós escrevemos.
Essas são situações plenamente aceitáveis.
Exceções são a da Rússia (J. R. Holden, naturalizado em 2003, jogou Eurobasket 2005, 2007, 2009 e Pequim 2008, dos 27 aos 32 anos…) e a que estão tentando nos impor como normal é uma manobra eleitoreira, imediatista e mais um pontapé rumo a derrocada do basquete brasileiro - Carlos Nunes é o protagonista da crise que vive o basquete gaúcho e corresponsável da crise brasileira, embora minha consciência me diga que todos nós, de uma maneira ou de outra, somos também responsáveis. No futuro não quero dizer "eu avisei", quero vibrar com um Brasil vencedor, com base na seriedade da conduta e na execução do planejamento proposto e levado à cabo pela nossa entidade máxima.
Há sim em minha posição uma forte ideologia de esporte olímpico, de nacionalidade, de superação cotidiana das dificuldades, dos próprios limites e de integração entre as equipes. Há, comigo, a necessidade das conquistam ocorrem com base no lema olímpico: de citius, altius, fortius. O esporte é integrador, desenvolve valores, o patriotismo, fortalece o espírito, diminui diferenças – e elas voltam a surgir pelas formas como cada nação investe nele e obtém resultados. Os Jogos Olímpicos são uma grande oportunidade de patriotismo. Isso mesmo: nação e patriotismo (lembram da entrada dos atletas americanos após o 11/9/2001?). É isso que são os Jogos: competições entre atletas que integram as diferentes culturas e fortalecem suas nações.
Finalmente, alguns dizem que o que importa é estar em Londres/2012. Isso me parece a busca por alegria fugaz, efêmera ao colocar o desejo de ver o basquete em uma edição dos Jogos Olímpicos e a frente de futuras gerações vencedoras – casos de Austrália e Argentina, sendo que esta arrumou a casa em meados dos ano 1980 para faturar a partir de 2000. Quinze (15!) anos de trabalho gente! Não é do nada que estão massacrando nossas seleções – exceção a vitória da sub-19 ontem.
Será que vocês imaginam que não quero ver o Brasil nos Jogos Olímpicos para decretar o fim da era Carlos Nunes? Ou entre semifinalistas de um mundial? Eu quero também minha gente! Eu quero dizer que não quero o basquete brasileiro quebrado como o gaúcho, pois o atual presidente da FGB jogou na mesma época que eu e sabe da grandeza do basquete gaúcho antes de Carlos Nunes ser presidente da entidade. Mas eu também quero um amanhã diferente, feliz e com muito basquete pelo país. E para isso, preciso continuar falando de esporte como educação, com seus valores positivos e da necessária organização das entidades que administram e desenvolvem o basquete no país. É importante terem isso em mente ao analisarem minhas posições.
Conceitos
Nação: comunidade com laços históricos, linguísticos, etc. sob governo único dentro de um território. Grupo unido por crenças, origens, costumes
Patriotismo: amor à pátria (país ou terra natal, lugar de origem)
Citius, Altius, Fortius: mais longe, mais alto, mais forte. Esse é o lema olímpico que muito tem distorcido em busca de falsas vitórias.
Sequência das fotos
Hakeem Olajuwon (EUA), Pat Ewing (EUA), Serge Ibaka (Espanha), Chris Kaman (Alemanha), J. R. Holden (Rússia) e Larry Taylor Jr. (Brasil???)
Hakeem Olajuwon (EUA), Pat Ewing (EUA), Serge Ibaka (Espanha), Chris Kaman (Alemanha), J. R. Holden (Rússia) e Larry Taylor Jr. (Brasil???)
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