Vejam bem, ontem falei da autoria e a importância que tem para nossa memória esportiva, tema tão estudado no meio acadêmico, lembrarmos a contribuição de cada pessoa para que exista uma estrutura, uma equipes treinando, vencendo competições e formando atletas nas várias modalidades praticadas no Brasil. Nesse processo, reforcei a magnitude do feito de Walter Roese, afinal perder para os EUA, em solo americano (San Antonio), por uma diferença de 3 pontos no placar (EUA 81 x 78 Brasil) é muito significativo. Mesmo assim, todos enaltecem Rubén Magnano pelo grande feito de ter perdido de 2 pontos para a seleção americana no Campeonato Mundial Adulto de 2010 na Turquia.
Magnano dirigiu jogadores rodado. Walter Roese – sem o título de campeão olímpico – dirigiu um time Sub-19, com apenas um mês de treinamento e sem terem grandes experiências em âmbito internacional. Será que conseguiremos mensurar a motivação e mobilização que ele conseguiu dar aquele grupo, naquele momento? E o que nosso basquete fez? Descartou, jogou fora aquele que é um dos maiores responsáveis pela abertura das High Schools, NJCAA e NCAA para brasileiros, desde Rafael Bábby Araújo, Tavernari, Douglas Kurtz, Marlon Louzeiro entre outros…
Percebem o tamanho do feito do Walter? Percebem aonde colocamos um grande batalhador do basquete brasileiro?
Então, vamos falar da seleção de desenvolvimento? Como uma confederação realiza um projeto que pretende formar novos jogadores, os qualificando como atletas que representarão o Brasil no futuro, provavlmente em 2016?
É preciso destacar que esse processo de concentrar atletas do basquete não é realizado há muito tempo – que só lembro do trabalho do Ary Vidal em 1987, sem querer desmerecer qualquer outro técnico. Isso é um velho sonho de qualquer técnico: reunir os melhores talentos em um mesmo local, por um longo período, possibilitar-lhes treinamento técnico, físico e tático sobre o olhar da comissão técnica da confederação. Oportunizar intercâmbios com outras seleções, através de amistosos. Facilitar vivências diferentes, como assistir jogos de adulto do NBB, palestras, interação com grandes atletas e técnicos da modalidade, enfim, facilitar-lhes a integração com o meio basquetebolistico brasileiro de alto nível. Além da continuidade da formação escolar e/ou universitária, é um privilégio participar desse processo. E esse processo deveria acontecer com as seleções estaduais.
O custo desse processo é alto. Elevadíssimo, se pensarmos que além de atletas, toda a comissão técnica tem que estar no mesmo local. Entretanto, há alguns anos ele é real. Viável com verbas que são despesajadas pela Lei Agnelo-Piva que chegam na confederação via COB. São quase 2 milhões por ano que a CBB recebe com a finalidade de fazer programas e projetos de fomento, manutenção da entidade, formação de recursos humanos, preparação técnica, manutenção de atletas e organização e participação em eventos esportivos. Foram exatos R$ 1.850.085,00 em 2009 e R$ 1.681.020,00 em 2010. Vamos somar a parte que a Eletrobrás repassa como patrocínio para as seleções, existe um grande movimento para qualificar os atletas e desenvolver a modalidade no Brasil.
Mas esse debate vou lançar na próxima quinta-feira, dia 9/10, já que necessito da avaliação do Relatório da Lei Agnelo-Piva com o cruzamento do balanço da CBB.
Como funcionou a Seleção de Desenvolvimento?
Inicialmente foram vinte e dois (22) nomes na lista e na fase de treinamento de janeiro. Essa lista que foi reduzida para dezesseis (16) nomes que a partir de 5/2 passou a morar e treinar, em dois turnos, em São Sebastião do Paraíso-MG. Sem jogar por seus clubes, com outras seleções nacionais de mesma faixa etária até a lista divulgada nesse domingo pela CBB. Esses moleques continuarão por lá? Não tenho dúvida que aprenderam muito sobre a convivência no esporte e com as palestras que tiveram, principalmente com o técnico da seleção adulta. Mas treinar sem jogar é válido? A ida a Dallas vale como jogar?
Em 09/5 onze (11) atletas foram integrados a Seleção de Desenvolvimento, sendo que nove deles jogaram a Copa América de 2010 e TODOS participaram da fase de treinamento desenvolvida por Walter Roese no período de 23/5 a 19/6/2010 em São Bernardo do Campo e de 21 a 25/6 em San Antonio-Texas/EUA, quando fechou o grupo que disputou a Copa América de 26 a 30/6/2010 na mesma cidade e conquistou a vaga para o mundial deste ano. Portanto, foram chamados trinta e três (33) atletas para a seleção de desenvolvimento.
Esse grupo, de onze atletas, chegou na fase final. Em termos de periodização do treinamento esses jovens chegaram no início do período transitório (30a 60 dias de descanso), pois vinham de competições por suas equipes. Deveriam passar pelo período preparatório para chegar no competitivo. Isso em 50 dias. Portanto, de 9/5 a 30/6 temos exatos 51 dias para descansarem e passarem pelo período preparatório, que deve ter sido o que os jovens que estão em São Sebastião do Paraíso desde 5/2 estavam realizando até aproximadamente meados de maio. Assim os que juntaram-se ao grupo, chegaram para o período competitivo e iniciam a fase final de treinamento, com o objetivo de atingir o peak durante o mundial, de 30/6 a 10/7. Peak é o limite máximo de performance individual.
Pois bem, nove desses onze convocados estão partindo para a Europa, onde começarão os oito (08) amistosos que servirão para ajustes e para atingir o ápice do desempenho físico e tático, auxiliados pela técnica de cada um. Portanto, pode ocorrer overtraining com esses atletas…
Voltando ao grupo que ficou em MG e a convocação final, conclui-se que cinco atletas desse grupo integraram a seleção divulgada nesse domingo: Durval A. Prado Cunha, Felipe Taddei, Gabriel Aguirre, Leonardo Meindl e Lucas Fernandes Mariano. Entretanto, Durval, Felipe e Gabriel fazem parte do grupo dirigido por Walter Roese em 2010 e apenas Léo Meindl e Lucas Mariano, ambos do Franca B. C. fazem parte da seleção de desenvolvimento.
Vinte dois atletas para que apenas dois (menos de 10%) cheguem ao Mundial. Esses dois são os perus de festa que conquistaram seus espaços nos treinamentos e merecem parabéns. Infelizmente a lista tem 13 nomes e só pode ter doze (12) na hora dos jogos oficiais. Creio que o Leonardo deverá disputar o mundial no lugar de Ícaro Parisotto (lesionado) e Lucas Mariano deverá ser cortado quando Lucas “Bebê” Nogueira juntar-se ao grupo, já na Letônia – esta programado assim, mas há dúvidas no meio do basquete que seja assim, pois Lucas Bebê esta participando do Draft da NBA e pode ser draftado, logo entrará no padrão dos tão debatidos seguros CBB/NBA.
Assim, foi investido uma grana muito alta para que apenas dois atletas cheguem as portas do mundial e apenas um participe efetivamente (posso estar errado e os dois participarem, termos um corte surpresa).
Mas até aí, dirão alguns, nada de mais, afinal poucos conseguem alcançar o Olimpo. Só que a CBB conseguiu fazer lambança de um projeto bom. Cria um problemaço para os jovens que abdicaram de seus clubes para estarem em São Sebastião do Paraíso em busca de espaço na seleção brasileira no Mundial e alavancarem suas carreiras como jogadores – não vou nem falar de estudo, escola ou faculdade, que é onde esses jovens deveriam estar parte do seus dias, pois não sei o que aconteceu por lá, apenas imagino que não tenha sobrado tempo com a rotina de treinamento imposta das 8h as 10h e das 16h as 18h, sem falar em musculação, fisioterapias e etc.
Creio que o processo foi organizado corretamente, mas as “exceções” prejudicam o conjunto. Se eu fosse um dos 22 que começou em janeiro e fosse cortado para que o grupo do técnico anterior, que a comissão técnica não conviveu com a mesma intensidade, eu estaria muito frustrado hoje.
Bernardinho é que esta certo: treinamento em tal período e quemnão puder estar em Saquarema, que nem venha. Chamo outro para o lugar. Lá, no voleibol brasileiro, exceções só para lesionados, falecimentos, casamentos – e sem lua de mel! Esse é o problema: NOVE treinaram menos de 30 dias e vão para a Letônia, 16 sacrificaram-se desde janeiro e vão ver o mundial de casa.
Hoje, temos um grupo vencedor com Walter Roese nas mãos do José Alves Neto, auxiliar de outrora. Mas temos atletas em final de temporada e sem tempo suficiente para recuperação. Estão lá por que conquistaram a vaga na Copa América de 2010 e por que são talentos. Desde o início os meninos que começaram em janeiro não tinham a menor chance de se integrarem a esse grupo. Só na ausência do Lucas Bebê, não esperado essa particpação no Draft da NBA, e por causa da lesão do Ícaro Parisotto.
O que dirão na CBB se os moleques não tiverem pernas para aguentar o tranco durante 10 dias?
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Beto - SC