Eu me lembro da primeira professora de educação física
que tive. Era 1978/1979 e nós tínhamos aulas de recreação com uma professora
diferente do habitual para crianças da 4ª série. Ela nos colocava em círculos
e ensinava-nos movimentos diferentes e divertidos: pulávamos em
arcos, fazíamos rolinhos com o apoio, plantávamos bananeira, corríamos em sacos
e tocávamos no nariz e no joelho muito
antes da Xuxa cantar "cabeça, ombro, perna e pé".
Mas isso era diversão e não percebia o quão importante
seria na minha vida de adolescente. Às vezes jogávamos futebol, mas isso era
raro. Certo mesmo eram as brincadeiras, os estafetas, o uso do próprio corpo
nos exercícios e algumas corridas nas brincadeiras.
Em 1980 passei a ser aluno do Élbio Porcelis, o
primeiro professor formal na 5ª série e técnico por dois anos de basquete,
voleibol e handebol. Ele e a Fundação Bradesco (Bagé) abriram o mundo do esporte
para mim. Troquei de escola e comecei a jogar basquete com o Orlando (professor
FAT-FUnBa da hoje URCAMP), o Renato e o Pneu (atletas e alunos da mesma
faculdade) o auxiliavam. Orlando dirigia o time de minibasquete e transportava a
gente para o centro da cidade (muitas vezes até em casa) na sua veraneio depois
dos jogos das rodadas do Campeonato Brasileiro Juvenil que teve em Bagé em 1983.
Passei por tantos outros, inclusive alguns da Escola
Técnica Federal de Pelotas no final dos anos 1980.
Mas entre todos os professores e técnicos que tive, eu
sempre destaco dois e isso não é desmerecer a importância dos demais, mas
somente a convivência por longa data e a forma como se preocupavam comigo que
os torna diferente dos demais.
Primeiro foi o Paulinho Oliveira, do SESC e do Colégio
Auxiliadora aqui em Bagé (hoje estou aqui, no frio do pampa gaúcho com um sol
magnífico!). Este fumante inveterado – atitude que o levou a morrer muito jovem
– foi fundamental de meus 11 aos 16 anos, percebendo minhas qualidades técnicas
e paixão pelo basquete, mas corrigindo os desvios com muita conversa. Paulinho
me colocou embaixo da asa e me protegeu nos piores momentos. Salvou um jovem
que poderia ter ido para caminhos tortuosos se ficasse sem esporte, sem o
basquete, ocioso em uma cidade cheia de ofertas perigosas.
Impossível em todo dia do professor - especialmente no
dia do profissional de educação física - não falar de Cesare Augusto
Marramarco, um milico vindo de Porto Alegre e da SOGIPA que foi e é
significativo em minha formação, padrinho do soldado Soares – por
isso sempre o cito como formador de pessoas, como ele escreveu o texto e eu
titulei na Revista Mais Basquete (ótima
leitura; visitem o site). O Marra, como o chamamos até hoje, é casado com a
Leda Tavares Marramarco, também professora de Educação Física, uma grande
amiga, que é aquela mulher do técnico que fica de olho nos pupilos. Leda teve
comigo duas conversas muito significativas nessa época e confiou em mim para
guiar o time dela campeão invicto quando eu tinha 16 anos contra um time muito
superior, dirigido pelo Élbio Porcelis. Ali eu vi que dava pra coisa, pois
acompanhava os jogos escolares e conhecia as atletas. Bons tempos dos citadinos
em Bagé.
Eles viram o talento esportivo, mas com a sensibilidade que já possuíam, acertaram no jovem e contribuíram positivamente com o homem que saiu de lá. Eu me sinto orgulhoso do que sou, da coragem de dizer o que penso, mesmo quando assumo as consequências de meus erros. Espero que eles orgulhem-se disso.
O Marra, foi meu técnico aos 13 anos e novamente aos
16, mas nosso vínculo era permanente mesmo nos anos que ele não me dirigia e
quadra.
Lembro que um dia, em Santa Cruz, eu errei um passe e
me desentendi com o pivô do meu time que disse que eu tinha que sair. Fiquei
mal e pedi para sair. A frase do Marra ecoa ainda hoje: "se tu estivesse jogando mal eu já tinha te tirado...".
Foi amizade? Foi estímulo? Confiança? Não sei, mas me lembro que foi um grande
jogo, talvez o melhor de minha curta carreira!
Com ele também tive oportunidades no adulto aos 16
anos, jogando contra o Grêmio no ginásio da Caixa Econômica Federal em Porto
Alegre. Também tive bons momentos ali...
Mas não pensem que minha amizade com Marramarco é
essa: gratidão pela confiança e oportunidades. Ele valorizava meu esforço e aprendizado, mas isso era a relação do
técnico com o atleta e todos devem fazer isso, mesmo o mais carrasco dos técnicos. Nossos alunos e atletas não são peças; são gente com sangue quente e sentimentos.
Portanto, "a oportunidade faz o ladrão" e eu já disse que todo jovem enfrenta uma encruzilhada e a
formação familiar, aliada a bons professores/educadores, é a única boa opção que lhe resta.
Marramarco e Paulinho estão aí: num patamar especial por terem sido o que foram
em minha vida. Sei que Paulinho já era um diferencial para outras pessoas e
Marramarco é humilde e não fala, mas tem uma gama de ex-atletas que o considera
demais e eu sou um deles, pois ele ainda é um referencial para mim. O melhor deles.
E através deles é que eu homenageio e parabenizo todos
os professores e bacharéis de educação física nesse primeiro de setembro,
desejando que cada um de nós sejamos o diferencial nas vidas de nossos alunos. Que
seja de apenas um; uma vida bem encaminhada e aconselhada vale muito mais que
os troféus que empoeiram na estante.
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