Queimo meus neurônios. Sinapses tentando superar a velocidade da luz. Aceleração do pensamento, como se fosse possível... Mas, ao fazê-lo, penso (cogito) que sou suficientemente inteligente para compreender e fortalecer a ideia de que no esporte precisamos construir a casa a partir do telhado. Essa é a analogia mais utilizada, mas isso é fisicamente impossível. Creio que a única justificativa é que ao usarmos essa analogia devemos perceber que construir a casa pelo alicerce funciona na engenharia, na forma como a gravidade nos puxa ao centro do globo. Entretanto, essa analogia não é verdadeira para a formação esportiva. Por quê?
Simplesmente porque vivemos de exemplos. Somos motivados pelo que vemos os mais velhos fazerem. Isso nos leva ao questionamento: sou capaz de fazer isso? Se acreditar que consigo, é certo que logo vou querer fazer mais e melhor que o modelo que segui.
Simplesmente porque vivemos de exemplos. Somos motivados pelo que vemos os mais velhos fazerem. Isso nos leva ao questionamento: sou capaz de fazer isso? Se acreditar que consigo, é certo que logo vou querer fazer mais e melhor que o modelo que segui.
Então, não me parece possível querer ser o Michael Jordan sem
conhecer o Michael Jordan. Lembro-me de meu primeiro passe pelas costas...
Inacreditável! Fiquei extasiado. Chegava cansado e dormia logo, mas aquele
dia... Ali eu percebi que poderia fazer coisas diferentes... Como aprendi aquilo?
Transferi do Andebol, de ver os mais velhos fazerem com a bola pequena e achar
aquilo muito fácil... Vou tentar no basquete. E assim fiz. Aquele passe que o
Benite deu no último jogo, eu era craque. E era repreendido por exagerar... “Faz
o simples!”, gritavam meus mestres. Mas o simples não me dava prazer...
Então, em minhas experiências e na história dos grandes
jogadores, o que massifica o esporte não são os projetos de base em si, mas os
ídolos que vemos jogar. Wlamir Marques reforça isso:
“Quando o basquete brasileiro foi medalha de bronze nas Olímpiadas de Londres em 1948, surgiu dali o meu estímulo para a prática da modalidade” (http://espn.estadao.com.br/blogs/wlamirmarques#1)
Podemos ir além de Wlamir Marques. Podemos falar do
pensamento do Barão Pierre de Coubertain, o idealizador dos Jogos Olímpicos. Gustavo
Pires escreveu o Efeito de Ídolo no Fórum Olímpico de Portugal (http://forumolimpico.org/content/olimpismo-desenvolvimento).
Lá, ele explica [grifos meus]:
“Coubertin, não fazia depender a elite da massa, quer dizer, de uma situação em que os atletas capazes de proezas extraordinárias dependiam da existência de uma base alargada de praticantes. Para ele, era a atração do atleta prodigioso que provoca o alargamento da base de prática desportiva. Por isso, não defendeu que, para que cinco atletas realizassem proezas extraordinárias era necessário existir uma base de cem atletas, mas, pelo contrário, para que existissem cem praticantes desportivos era necessária a existência 5 atletas extraordinários. Esta perspectiva de desenvolvimento baseia-se no chamado “efeito de ídolo”. Quer dizer, o ídolo, devido à admiração das massas, provoca um “feedback” organizacional promotor de desenvolvimento através da adesão das populações à prática desportiva”.
Círculo vicioso do bem. Multiplicador de praticantes e
facilitador da descoberta de talentos.
Kobe Bryant (Los Angeles Lakers) sempre disse que um de seus
ídolos era Oscar, pela precisão dos arremessos. Neymar diz que via os treinos
de Robinho e aquilo era inspiração. O que fez Guga com o Tênis? O pai era a
inspiração, mas André Agassi também.
Os craques estão aí, relatando o papel de seus ídolos em suas
histórias. Sem os ídolos, sem craques, sem novos ídolos e sem interesse na
prática pelos jovens.
É por isso que ainda temos muito que honrar as conquistas de
nossos medalhistas olímpicos e mundiais. Honrar Magic Paula, Hortência, Janeth,
Vânia Hernandes, Branca... Isto não inviabiliza as conquistas dessa nova
geração que dominou a NBA. Nenê, Varejão, Splitter, Leandrinho e Alex são vencedores.
Pipoca e Rolando abriram as portas e estes escancararam. Então eles tiveram, na
geração anterior, exemplos de como chegar lá. Eles viram que era possível. Este
é o efeito do ídolo.
Por isso que eu creio que o Brasil deve continuar pensando
nas categorias de base, continuar investindo nos campeonatos de seleções
estaduais e continuar trabalhando pelo surgimento de novos talentos através da
divulgação das façanhas de nossos maiores atletas. Penso que esse trabalho que
esta sendo feito com os grandes vencedores de nosso basquete (Wlamir, Amaury,
Paulista e todos os demais vencedores de medalhas olímpicas e de mundiais) é
fundamental nesse processo e creio que criação de algo semelhante ao Hall da
Fama do Basquete Brasileiro na CBB será a marca da importância da história
recente para as conquistas futuras. Mas, acima de tudo, penso que nossas
seleções adultas são o ponto de referência para motivar a prática do basquete
entre os jovens.
Eu penso que ao conhecerem nossos ídolos, os jovens irão
sentir o cheiro de vitória e irão querer saboreá-la com suas próprias
conquistas. E assim cresceremos mais e mais, como temos conseguido nos últimos quatro
anos. E que sejam mais quatro anos de muitas vitórias e conquistas.
Comentários