O armador arma, organiza,
distribui, coordena, dá assistências.
O mundo do basquete tá doido. Os
armadores, agora, querem pontuar, querem ser os cestinhas da equipe, os dono
centrais da festa, aparecem por suas ações individuais, mas não por colocarem o
colega de equipe em condições de pontuar – essas ações quando magníficas permitem
enaltecer a técnica e personalidade do armador e quando desastrosas foi
consequência da personalidade do armador e da incompetência dos demais atletas
do elenco.
Earvin “Magic” Johnson foi o
armador que eu mais gostei de ver jogar. Ele me foi apresentado em 1983, quando
eu tinha 13 anos, e os passes desse cara eram de encher os olhos de tão belos.
Queria fazer igual e isso em uma época que a febre da NBA nem existia. E dava
meus passes estilosos aqui e ali e pontuava muito no basquete escolar, mas no
ambiente do basquete federado eu apenas armava o jogo. Me faltava personalidade
para atacar e pontuar? Talvez, mas lembro de ouvir de um coach que estava
fazendo o time jogar e isso era importante.
Magic Johnson foi campeão em seu
primeiro ano de NBA. Kareem Abdull-Jabbar lesionou-se e Magic disse ao técnico
que ele faria o papel de Kareem. E fez. Um armador com personalidade? Sim, um
ex-pivô de 2,02m que ficou muito famoso por ser... Armador.
John Stockton é o cara das assistências.
Passou Magic Johnson em quantidade por ter jogado por mais tempo. Mesmo assim,
eu o vejo com um cara cirúrgico. Passes milimétricos. Passes no ponto futuro
onde, invariavelmente, Karl Malone estaria. E fez o mesmo pelas seleções e já
era assim na época de universitário. É o que contam os livros e os vídeos.
No Brasil, eu adorava ver
Carioquinha jogar. E chutar da zona morta livre. O primeiro armador pontuador
que vi, mas não época eu não sabia disso, apenas um arremesso muito longo e
bonito. Vi Nilo, Maury e Guerrinha armando para o time, mas também com seus
arsenais de infiltradas e arremessos certeiros. Felizmente, todos armavam para
os alas, os pontuadores por excelência do time e todos passavam para seus
pivôs, normalmente mãos de alface – bola bate e escorrega ou quando pegavam a
bola mais erravam os arremessos fáceis debaixo da tabela do que convertiam. E
os alas pontuadores desses caras foram, por longa data, Oscar e Marcel. E aí o
Brasil virou o time dos 3 pontos ou 40% de acerto, o equivalente a 4 arremessos
certeiros em 10 realizados.
O Guerrinha merece um comentário
há mais: ele me deixava louco porque sabíamos da capacidade de 3 pontos, mas
pontuava pouco. Issso aconteceu no Mundial da Espanha (1986), onde o Guerrinha
foi o sexto pontuador do time, o Maury o sétimo e o Nilo o nono enquanto Oscar,
Marcel, Israel, Gérson e Paulinho Villas Boas foram os maiores pontuadores do
time –três alas e dois pivôs.
Armador é um cara com domínio de
bola privilegiado: dribla fácil e sem olhar para a bola e tem um controle de
distâncias, posicionamento dos colegas e uma visão que atinge todo o “tabuleiro”.
Então, um armador antevê um movimento e joga a bola lá, naquele ponto que faz a
torcida sorrir feliz antes mesmo do colega dele estar lá. É assim na ponte
aérea...
Não vejo mais armadores clássicos
que permitam o talento de uma equipe aflorar. Se a equipe erra em seu conjunto,
a personalidade do armador vai aflorar. Eu fico me perguntando: de que adianta
um armador ser cestinha se o nosso time perder?
Eu gostaria muito de ver um
armador que faz 10 pontos por jogo, pois é consequência de contra-ataques e
arremessos necessários, mas que sai do jogo com 10 assistências e que marca o
adversário de forma implacável – não me adianta ser o cestinha se, no momento
da pressão adversária, o cara que ele marca faz 70% dos pontos que marcou no
jogo. Com 10 assistências por jogo, o armador terá a média de John Stockton,
portanto essa é a marca da excelência em jogadores de elite.
Enquanto não colocarmos na cabeça
de nossos atletas exatamente aquilo que devem fazer, não vai ser fácil mudar o
nível de nosso esporte. Deve ter um guri por aí capaz de fazer isso... Trazer
encanto ao basquete brasileiro por fazer seu time jogar e não pelos pontos que
faz.
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