Tive a sorte de realizar uma entrevista com alguém que sabe muito de
basquete, uma lenda viva desse esporte que amo, um profissional exemplar que me
deu a oportunidade de responder dúvidas sobre o nosso basquete. Estou falando
de Byra Bello, comentarista de basquetebol do canal SporTV, já trabalha com o
esporte a quase vinte anos, também foi um atleta e técnico, formado em Educação
Física. Ninguém melhor para nos mostrar em que rumo anda o nosso basquete e
expor sua opinião acerca do futuro no esporte. Agradeço muito a experiência e a
paciência de responder essa entrevista, foi um grande prazer.
Mais Basquete: Fale um pouco sobre a sua carreira.
Byra Bello: Comecei a
jogar basquetebol aso 11 anos no Riachuelo Tênis Clube. Depois do falecimento
do meu pai em uma partida entre Riachuelo e Tijuca, categoria infanto-juvenil,
em 1969, ele era diretor de basquete e eu estava jogando, fui para o Vasco onde
joguei até os 33 anos.
Mais Basquete: Como conheceu o basquete e como entrou nesse meio?
Byra Bello: No Vasco fui
campeão juvenil, bicampeão Aspirante e sete vezes campeão adulto. A partir de
1980 comecei a trabalhar, e ainda jogava, como técnico das divisões de base do
Vasco. Fui campeão como técnico no Vasco na categoria juvenil, e duas vezes
campeão no adulto (1987 e 1992). Antes de trabalhar como técnico no Vasco, fui
técnico da Agremiação Atlética Universidade Gama Filho. Depois do Vasco passei
rapidamente pelo Botafogo e Jequiá. Em 1973 fui aprovado, em 3º lugar, no
vestibular em Educação Física para a Universidade Federal do Rio de Janeiro. O
meu técnico no Vasco trabalhava na Universidade Gama Filho e ele perguntou se
eu tinha disponibilidade para substitui-lo no mês de julho de 1973, eu estava
apenas no segundo período da faculdade, em aulas para escolinhas de
basquetebol. Aceitei o desafio e quando ele retornou, a instituição se
pronunciou dizendo que gostaria que eu permanecesse. O Sr. Olímpio, meu
técnico, achou muito legal e trocou todo seu horário para que eu pudesse ficar
na parte da tarde, já que a faculdade era pela manhã. Pois bem foi o meu
primeiro contato como professor de basquetebol. Apenas um detalhe, em setembro
de 2014, fiz 41 anos como professor da Gama Filho, que como o amigo deve saber,
foi descredenciada pelo MEC. Assim que me formei fui promovido a professor,
antes era instrutor de basquetebol. Fiz concurso e fui aprovado para professor
do Município, onde trabalhei com turma durante 20 anos. Ainda como professor do
Município fui trabalhar fora de turma, na Secretaria de Esportes, onde mais
tarde fui Subsecretário de Esportes do Município do Rio de Janeiro. Em 1985 fui
aprovado para professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro, onde
trabalho até hoje na Licenciatura e Bacharelado do curso de Educação Física. Em
1995 fui chamado para dar aula, na mesma situação da UFRJ, na Universidade
Estácio de Sá, onde leciono até hoje. Em 1995 fui convidado pelo SporTV para
comentar jogos de basquetebol. São 19 anos no canal com 5 Olimpíadas e 5
mundiais.
Mais Basquete: Analisando o desempenho no mundial e os investimentos que são feitos no
basquete, como achas que será o desempenho da nossa seleção nos Jogos Olímpicos
do Rio?
Byra Bello: Creio que
o Brasil poderá fazer um bom papel nos Jogos Olímpicos de 2016, na cidade
maravilhosa, entretanto terá que jogar muito pois o nível do basquetebol
mundial melhorou bastante. Na minha opinião o ouro já tem dono, USA. Os outros
países vão disputar a prata. Claro que se os Estados Unidos vierem sem os
jogadores da NBA, o caminho ao ouro se torna viável. Agora com os melhores da
NBA, como sempre fazem em Jogos Olímpicos, aí nada feito, o ouro já tem dono.
Esta análise serve também para o feminino.
Mais Basquete: De que maneira poderíamos fazer o nosso basquete ser altamente
competitivo novamente?
Byra Bello: Trabalhando
melhor nas categorias de base e facilitando mais o acesso ao basquetebol. Temos
que aumentar o número de praticantes. Poucos meninos e meninas procuram o
basquetebol. A oferta acessível ao povo é ridícula e temos carência de bons
professores. Os nossos técnicos estudam pouco e com isso ficam desatualizados.
Mais Basquete: Acreditas que os americanos são superiores aos demais? Isso se atribui
a que?
Byra Bello: Estão a
pelo menos 50 anos na nossa frente. Profissionalismo, planejamento, seriedade e
comprometimento. Temos no esporte brasileiro um sério problema de gestão.
Mais Basquete: Como avalias a importância da NBA e do Basquetebol
Europeu (liga ACB e as demais) para a formação dos jogadores, visto que, nossa
seleção tem melhores resultados quando atuam atletas dessas ligas.
Byra Bello: A NBA é
uma liga altamente profissional. Digo que a NBA tem 30 equipes/empresas que
trabalham para dar lucro. Aquilo não é clube é empresa. Tem dono que investiu e
quer, antes de tudo, retorno financeiro. Agora mesmo estão preocupados com as
seguidas lesões apresentadas pelas suas estrelas. Diminuir o número de jogos
não será legal pois financeiramente vai ser uma medida contra. Então os caras
já estão pensando em diminuir o tempo de jogo. Esta semana fizeram um jogo
experimental com 4 quartos de 11 minutos. Falam em não ceder mais jogadores da
NBA para as competições da FIBA, em virtude da fratura do Paul George, enfim, o
investimento é alto e tem que ser administrado com profissionalismo.
Mais Basquete: O NBB conseguiu reerguer o basquete em nosso país?
Byra Bello: Acredito
que sim. Internamente o NBB conseguiu resgatar a credibilidade do basquetebol
junto a imprensa e parceiros, entretanto ainda falta a nossa seleção voltar ao
pódio. Isso é fundamental para o seguimento do basquetebol.
Mais Basquete: A criação e o incentivo de uma Liga Universitária poderia trazer bons
frutos?
Byra Bello: Não
acredito, pois os jogadores são os mesmos. Nós não temos uma cultura de esporte
escolar. O nosso esporte é clubistico. Este trabalho só daria resultado a logo
prazo se tivéssemos o esporte na escola. Quem joga nos famigerados torneios
universitários são os jogadores que jogam nos clubes. Isso é muito ruim.
Mais Basquete: Deixe um recado para nossos leitores.
Byra Bello: Muito
obrigado pela oportunidade de poder me apresentar e contem sempre comigo. O
Basquetebol é minha vida. Um forte abraço.
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