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Entrevista com Cristiano Felício

Cristiano Felício, jovem em ascensão e futuro da seleção

   O basquete é certamente o meu esporte favorito, amo o jogo e poder jogar, escrever sobre ele, tudo. Ter a oportunidade de entrevistar um jovem em ascensão, que joga no time que eu torço e é uma das caras novas da seleção brasileira não tem preço.
   Hoje trago pra vocês uma entrevista exclusiva que pude fazer com Cristiano Felício, pivô do Chicago Bulls e da seleção brasileira, atleta promissor do nosso basquete e que vem tendo bons resultados na NBA. Conversamos sobre basquete, sua carreira e projeções para o futuro.

   1) Como conheceu o basquete e porque começou a jogar?

   FELÍCIO: Conheci o basquete com 13 anos, nos Jogos Escolares da cidade, a convite de um técnico. Foi assim que eu comecei, não teve muito de referência ou influência de um parente ou amigo, foi mais porque veio esse convite e aceitei. E nunca mais parei.

   2) Quando começou a encarar o esporte como uma possível profissão?
   
   FELÍCIO: Comecei a encarar o esporte como profissão quando fui para o Minas, foi quando eu vi que eu tinha chance de ser um jogador profissional, até por estar num clube como o Minas, em meio a jogadores de renome. Aquilo me deu uma visão maior do que eu poderia alcançar.

  3) Como foi o começo nas categorias de base?

   FELÍCIO: O começo foi bem difícil, porque venho de uma família pobre, então para comprar um tênis, comprar roupa adequada era difícil. Na minha cidade, Pouso Alegre, não tinham muitos lugares para poder jogar perto de casa, então eu tinha que andar muito longe para praticar. Para fazer peneira, sempre teve a ajuda de um amigo ou outro, que também estava indo e pegava carona até outra cidade, ou ia de ônibus. Mas valeu todo aquele esforço que eu fiz para tudo o que eu consegui até hoje.

   4) Por quais clubes teve passagem antes de chegar a NBA? E onde conquistou mais títulos?
   
   FELÍCIO: Comecei na minha cidade, no time da escola, depois joguei no time da cidade, depois pelo time de Varginha e fui para Jacareí. Joguei no Minas, depois vim para os Estados Unidos onde fiquei por um ano jogando numa escola preparatória, voltei ao Brasil para o Flamengo, onde fiquei dois anos, e foi lá que eu conquistei mais títulos, os maiores da minha carreira. Depois vim para os Estados Unidos de novo e já tem cinco anos.

   5) Falta trabalho mais adequado nas categorias de base?

   FELÍCIO: Falar de categoria de base é sempre complicado. Não são todos os lugares no Brasil que tem estrutura, muitos não tem investimento. Não falta um trabalho adequado, falta investimento. Quando eu jogava em Jacareí, uma coisa que eu achava legal, nas categorias de 12, 13 anos, que todos jogavam no mínimo um quarto do jogo. Isso, com certeza, ajuda muito na evolução. Hoje em dia, categorias de base, resultado vale muito, mas serve para revelar atletas. Acredito que o foco na base fica muito em três, quatro, seis jogadores que você sabe que pode ter em quadra a todo momento. Assim, um garoto que tem vontade e talvez não tenha a mesma categoria, mas que pode evoluir, não joga e se desestimula, atrapalha esses jovens.

   6) Quando a NBA se tornou um objetivo? Sempre sonhou em jogar lá?

   FELÍCIO: Foi no meu segundo para terceiro ano no Minas. Meu técnico, o Raul, pai do Raulzinho, ele sempre me perguntava se eu assistia aos jogos, dizia que eu podia fazer aquilo que eles faziam na NBA. Ir para a NBA, foi assim que comecei a treinar mais e mais, para dar esse pulo, que não é nada fácil. É difícil chegar aqui, mas mais difícil ainda se manter. Foi assim que comecei a acreditar na NBA como uma possibilidade. Daquele ponto que falei, do segundo para o terceiro ano no Minas, quando comecei a jogar, a NBA era uma fantasia. Jamais achei que um dia estaria aqui e por tanto tempo, mas ali, quando comecei a escutar mais o Raul, levar isso a sério, que muitas vezes achamos que é brincadeira, a pensar se a NBA era possível. 

   7) Como foi o processo de adaptação com a cultura? O que foi mais difícil, língua, comida, costumes?

   FELÍCIO: O primeiro ano que eu vim pra cá me ajudou muito com a cultura, com comida, língua, eu já tinha aprendido o inglês forçado, para poder ir para uma universidade. Na segunda vez, que vim já para a NBA, claro que tem muita diferença, mas aquele primeiro ano me preparou bem pra chegar na liga sem problemas para me adaptar.

   8) Jogar na Summer League é um grande momento pra aprendizagem?

   FELÍCIO: Com certeza, jogar na SL foi um aprendizado imenso, além de você jogar com os principais atletas que vão para a NBA, para mim, ser um dos jogadores ali foi o que me ajudou a entender onde estava o meu nível de jogo, e até onde eu poderia chegar.

   9) Como é atuar em Chicago, cidade conhecida por ser fanática por esportes?

   FELÍCIO: Chicago é sensacional, sem palavras. É uma das maiores franquias da NBA, poder jogar onde tantos astros jogaram, onde o maior de todos jogou, é motivo de muito orgulho. É uma cidade que vive esporte, o carinho é enorme, a cobrança também é grande, isso engrandece cada vez mais o fato de estar aqui, pela história da equipe e por tudo que representa.

   10) Qual companheiro de equipe que mais ajudou na evolução do seu jogo e por quê?

   FELÍCIO: Chegando aqui na NBA, um cara que me ajudou muito, que sempre menciono, foi o Joakim Noah, um cara que já estava aqui em Chicago por muitos anos, um jogador que sempre entregou o máximo para o time, sempre foi o coração da equipe, e pude ver isso de perto. Aprendi demais com ele.

   11) Você acha que existe muita diferença no nível de basquete da NBA pro restante do mundo?

   FELÍCIO: Tem sim, muita diferença, técnica e fisicamente. Eles estudam muito o jogo. Vemos isso sempre em competições internacionais quando vão os principais jogadores, são sempre favoritos, antes mesmo de entrarem em quadra, sabemos da força dos Estados Unidos. Não é só isso, a honra que eles tem em estar com a camisa do país e defender a pátria, também traz um pouco mais dessa gana de vitórias deles. 

   12) Qual seu maior sonho na carreira?

   FELÍCIO: Hoje é conquistar uma medalha olímpica com a Seleção Brasileira. Seria inexplicável, maior do que tudo, mais do que um anel da NBA. Conseguir uma medalha, de qualquer cor, seria o auge pra mim.

   13) Qual a sensação de defender a Seleção Brasileira?
   
   FELÍCIO: Sensação sempre foi de honra desde o primeiro dia. Sempre quando vou, pra mim é como se fosse a primeira vez. Fico muito focado em fazer o meu melhor quando visto a amarelinha, representar o meu país e o nosso povo. É diferente de qualquer outra coisa.

   14) Fazendo parte da nova geração da seleção, o que esperas para o futuro do Brasil no basquete?
   
   FELÍCIO: Pra mim é uma experiência muito boa, junto vem o desafio, todos esperam mais da gente e estou pronto pra isso. Temos uma geração muito boa, Raulzinho, eu, Caboclo, Benite, Didi, Yago, muitos jovens com experiência internacional, além de garotos que estão despontando no Brasil. Temos uma geração muito boa para o futuro e vamos fazer de tudo para levar o nome do Brasil ao lugar mais alto que pudermos.

   15) Como atleta o que acreditas que falta pro basquete nacional evoluir?
   
   FELÍCIO: Como falei, para o basquete evoluir, precisamos de mais investimento, não apenas nos grandes centros, mas em todo o Brasil. Enquanto não houver isso, nosso esporte não vai evoluir tudo o que pode. Vemos isso na Espanha, aqui nos Estados Unidos, basquete em todo o lugar, você tem cestas, escola, o pessoal jogando, e no Brasil não é frequente. Somos o "país do futebol", o investimento vai muito para isso, mas deveríamos ter um pouco mais de atenção para o basquete também, ajudaria muito a crescer.

   16) Deixe um recado para os leitores.

   FELÍCIO: Espero que tenham gostado da entrevista. Estamos vivendo um momento difícil, que exige paciência, solidariedade e responsabilidade. E vamos tentar fazer o que precisa ser feito, cuidar da gente e de quem está a nossa volta ... Ficar em casa o máximo possível, para que possamos passar por isso e voltar a ter uma vida normal.

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