Quinta-feira, 22h30min, jogo-treino de duas equipes. O PBC não estava envolvido, o frio tinha dado lugar a uma temperatura agradável, apesar das doenças respiratórias, rubéola, bronco-pneumonias e pneumonias que este último mês deixou em Pelotas. Então , por que sair de casa? Fui lá buscar o dvd do Magic Johnson emprestado e observei muito os jovens que ali estavam. Adolescentes em transição para a vida adulta, envolvidos com namoradas, maromba, faculdade, pré-vestibulares e com o basquete. Vidas em formação que passaram a adolescência brincando com a bola, sem uma formação esportiva consistente — a visão do esporte recreativo nas escolas é limitante e excludente, pois nesse processo quem não sabe não aprende por que o “treino” é recreativo e quem sabe quer jogar com quem sabe, não quer ensinar os menos habilidosos.
É assim desde que o mundo é mundo. Vivi isso: bom demais para um grupo, era excluído; limitado pela idade para outro, completava as peladas quando faltava gente. E assim fui aprendendo a ver o basquete, ver o jogo, aprender, até chegar a minha vez de ser um pouco arrogante.Pois bem, esses jovens de Pelotas, pelo que acompanho nos últimos 15 anos, são a segunda ou terceira melhor geração de basqueteiros que vi por aqui. A melhor se dissipou em para outras paragens assim que terminou o ensino médio e não passa de lembrança. Claro, pensei em outros tantos que não estavam no ginásio e percebi que, assim como as anteriores, mais de 80% deles passará sem ter vivido um JIRGS ou um campeonato estadual, sem terem tido a oportunidade de uma disputa mais acirrada e da necessidade de superação que tais jogos exigem.
Surge outra pergunta: eles desejam isso? Sim, em conversas informais percebe-se a frustração por não terem participado de tais competições e estarem limitados a jogarem entre si, em campeonatos locais de pouca expressão e que para uns é apenas diversão, sem a seriedade e o compromisso de um trabalho de equipe — não esqueçamos que estão na fase universitária e assim como no basquete federado se perde bons talentos para as universidades, aqui, sem a mesma competitividade e perspectiva de futuro, é óbvio a prioridade de cada um.
Entretanto, a reflexão pode ser mais profunda, se pensarmos na municipalidade e na necessária organização regional que precisamos colocar em ação. A constituição define que todas as vertentes do esporte merecem igual apoio do poder público, com ênfase ao esporte escolar. Não acontece nada disso. Competições isoladas, com Jogos Escolares Brasileiros, Jogos Escolares do Rio Grande do Sul, Jogos Escolares de Pelotas, entre tantos, não são sinônimo de investimento no esporte escolar. Significam apenas que as diferentes instâncias administrativas organizam uma competição que, a grosso modo, poderia ser organizada pelas próprias escolas. O que precisamos são políticas esportivas consistentes que atinjam as escolas e sejam capazes de cumprir o papel do estado de agir conjuntamente com a sociedade na formação e desenvolvimento esportivo, além da contribuição que todos os projetos sócio-esportivos trazem consigo, como o afastamento da violência e das drogas.
Se conseguirmos envolver os órgãos de administração do basquete e o poder público, juntamente com a sociedade civil (NÓS!!!), teremos uma rede capaz de construir programas de ação que promovam as mudanças necessárias para desenvolver o basquete em nossa cidade e região. Se formos bem sucedidos o efeito cascata será uma conseqüência e não teremos tantos jovens desperdiçando talentos em peladas e torneios eventuais.
Comentários
Estou gostando da tua disposição em escrever :) passei o endereço do blog aos meus alunos do Basquete.
Sou professora de basquete na 6ªe 7ª série do ensino fundamental e da 1ª, 2ª e 3ª série do ensino médio. A maior parte são turmas masculinas.
No Col. Militar temos uma ed física consistente, ou seja, tem um programa de ed física para cada série que é seguido pelos professores. Trabalhamos os esportes mais populares (volei, atletismo, basquete, handebol, futsal, futebol) e alguns outros, também,como esgrima, judô, tiro, orientação, pentatlo moderno.
Embora as aulas tenham muito de recreação, os fundamentos dos esportes são trabalhados.
As minhas turmas de aula são a base das equipes de basquete do colégio. Eu treino as equipes masculinas.
Porém, as condições de trabalho na maioria das escolas são complicadas. Eu mesma tenho quadra e bolas, mas falta um teto :) É só chover que o treino já fica prejudicado.
Nas escolas estaduais falta material, quadra e salário para o professor investir fora do horário de aula. E, infelizmente, muitos professores, não dão aula mesmo. Apenas 'emprestam' a bola. Geralmente, a de futebol para os meninos e de volei para as meninas.
Uma das coisas que enfrentamos no CMPA, nas 5ªs e 6ªs séries, é de que os alunos de início só querem jogar futebol, pois é só o que eles conhecem.
Assim, as escolas tem de ter uma política de esportes, também. Qual delas tem? A maior parte das iniciativas são dos próprios professores que gostam do esporte e se dedicam.
Assim, nosso principal aliado é a paixão mesmo pelo esporte :)