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Dia das Professoras e dos Professores

À:

Minha Mãe-Amiga-Professora, Minha Esposa-Amiga-Professora-Colega, Minhas Professoras e professores do jardim de infância e da 1ª série, da Fundação Bradesco, do Colégio Auxiliadora, das equipes da FUnBa de Basquete, do Colégio Espírito Santo, do Colégio Estadual Carlos Kluwe, do Colégio Municipal Pelotense, da Escola Técnica (hoje CEFETRS), do Michigan/Albert Einstein, da ESEF-UFPel, do Pré-Vestibular Universitário, da pós-graduação da FaE-UFPel, da pós-graduação da FACED-UFRGS (curso interrompido por causa do acidente), dos mestrados (FaE e ESEF da UFPel) e do doutorado (FACED-UFRGS) onde fui aluno especial (curso também interrompido por causa do acidente).

Hoje estou de folga (13/10): anteciparam o dia do professor em minhas escolas e fizemos um feriadão – desde sexta sem ver aluno na minha frente e uma segunda-feira silenciosa... Ao descer as escadas me senti despreocupado, como se um dia de domingo fosse. Tranqüilo, a única tarefa era ajeitar as coisas e mandar dois dos pimpolhos para a aula. Então lembrei de minha primeira professora, não a da escola, mas a de casa que além de minha mãe também é professora. Nessa época do ano, na minha adolescência, sempre aparecia alguém na minha casa, um ex-aluno com a noiva ou com o filho recém nascido; uma ex-aluna que estava na faculdade; enfim, ex-alunos e ex-alunas dela. Sempre levavam um presentinho na mão e palavras que, mesmo que nós fossemos educados para deixar as visitas da mãe e do pai a vontade, percebíamos que traziam lágrimas ao rosto sofrido de minha mãe. Eu pensava: “o que esse cara ta fazendo pra minha mãe chorar?” Mas logo, no ímpeto juvenil de protegê-la, eu a via dando um abraço, recebendo um bem apertado e ficava tudo bem. Sempre nos dizia quem era, lembrava da história da pessoa, as dificuldades para estudar ou o desdém ao esforço dos pais que estudassem. Quase não a vi perguntar qual era o nome da pessoa.

A questão do dia dos professores não são os presentinhos, mas os abraços, os presenciais e os carregados de boas energias que se recebe daquele aluno que está centenas de quilômetros distantes e que, ao perceber que é dia do professor, lembra-se imediatamente daquele que fez diferença em sua vida, uma professora ou professor especial para ele. Esse é o carinho mais representativo do grau de importância que cada mestre teve em nossas vidas e todos nós sempre lembramos de alguém – hoje comecei o dia pensando em minha mãe e em minha esposa, professora e também colega de profissão.

Minha mãe, no fim da carreira, teve um tijolo escondido em sua bolsa, que levava para a aula (nós deixamos guardadas em armários cadeados e bem protegidos), pois o respeito que ela tinha pelo que era dos outros a fazia crer que os outros também tinham entre si – aquela coisa que Paulo Freire chamou de ética universal do ser humano. Pois em um tumulto de sala de aula, saiu com dois alunos, solucionou o problema e voltou a sala. As risadinhas e o silêncio que se seguiu lhe deram a impressão de que algo havia acontecido, mas como ninguém falava, ficou esperta, mas sem se manifestar. Ao terminar a aula, pegar seu material e a bolsa, percebeu que estava pesada. Algum aluno, desses bem engraçadinhos, havia aberto a bolsa e colocado um tijolo dentro da bolsa da professora de quase 60 anos. Foi uma tristeza receber a ligação dela naquela noite me contando o que ocorrera e a sugestão ao final: por que a senhora não se aposenta? Passou 30 anos em escolas, não enriqueceu, viu o salário reduzir desde que ingressou no magistério gaúcho, várias perdas salariais, mas sente-se gratificada por ter exercido a profissão dela com dignidade. Quinze desses trinta anos foram cumpridos viajando pelo interior de Bagé, saindo de casa antes das 6h da manhã e muitos alunos da zona rural foram privilegiados ao tê-la como professora – em conta arredondada feita por mim foram mais de 120 mil quilômetros rodados entre Trigolândia, Candiota e Bagé.

Se hoje, com as novas tecnologias, com a blogmania, eu consigo escrever um parágrafo e gostar dele, devo aos muitos livros que ganhamos para ler – meus irmãos e eu. Quando uma professora me chamou para fazer a leitura de um texto e eu me saí mal, foi à minha mãe que eu recorri. Dali em diante, recebi uma intensiva na leitura que depois, quando muitos livros chegavam e repousavam sobre a estante, ficavam a disposição para pegá-los, manuseá-los e, ao estilo de Rubem Alves, ou seja, antropofagicamente, devorar suas histórias e o saber que neles repousavam, era uma atitude normal. Se eu passar um dia sem escrever, sem juntar palavras e fazer de um amontoado delas uma minúscula sinfonia podes ter certeza, o dia foi incompleto. Não precisa estar concluído, publicável, mas um rascunho já é suficiente. E com a informática, o celular com mensagem, sempre consigo dar o ponta-pé inicial em algo que me chama a atenção.

Então, como mãe é incalculável minha dividia com Dona Maria Luiza; mas também é da professora que foi que me sinto orgulhoso e quero destacar hoje. Também me sinto saudoso das viagens para o interior de Bagé e das aulas que assistia pelas janelas ou escutando da porta sua voz doce e firme ensinando nosso português aos seus alunos. Portanto, ao homenagear, an passant, minha mãe-amiga-professora, quero estender meu abraço a todos os professores que passaram em minha vida e dizer que, sem eles, não seria o que sou. Quiçá a juventude possa ter, como eu tive e ainda tenho, pessoas preocupadas em lhes passar o conhecimento, a ensinar-lhes posturas, a educar-lhes as almas de maneira que além de aprender a ler e a somar, aprendam a conviver em paz, mas com decisões firmes e éticas e, se for preciso, saibam ir a luta contra as injustiças, as manobras dos poderosos, os tijolos colocados nas nossas bolsas... Hoje, pelo menos nessa postagem, vamos deixar de lado os problemas do nosso basquete, do nosso olimpismo, de nossas políticas públicas (ou a falta delas) para a educação e para o esporte e o lazer e vamos nos lembrar de nossos mestres. Todos eles, em especial minha mãe, deixaram marcas no meu coração, no meu jeito de ser, de ver o mundo, de refletir, de educar. Eu creio que é isso que eu faço, EDUCAR. Nada de doutrinar e tornar meus alunos engajados politicamente, mas dar-lhes um arsenal de conhecimentos que os torne capazes de, apropriados do saber de nossa história, escolherem o próprio caminho – não o meu caminho, a minha ideologia –, mas aquele caminho que dá sentido as próprias vidas.

Meu beijo muito especial em minhas professoras e meu quebra costela nos professores. Parabéns pelo nosso dia!!!

Educar é construir pontes

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