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Basquete, esporte coletivo

Posso não concordar com uma palavra do que dizes,
mas defenderei até a morte o teu direito de dizê-las.


Tenho visitado o blog da Liga Nacional de Basquete com bastante frequência nos últimos dias. Minutos atrás encontrei* indicação para o site do Oscar e o vídeo que ele postou ontem. Não vi ninguém falar nada no twitter ou mesmo em outros blogs. Talvez por discordarem do que nosso ícone da modalidade fala no vídeo, talvez por não considerarem importante suas ideais do jogo ou, ainda, por concordarem explicitamente com a fala do ídolo, pois vejam o que publicou o editor do território: “quando as lendas falam, resta a nós, meros mortais, nos calarmos para ouvir”.

Me dou o direito de discordar disso – a frase do editor do Blog da LNB – e do que transcrevo abaixo, que faz parte do vídeo. Nas palavras de Oscar (exatamente como esta no vídeo): 
eu só espero que os pivôs joguem o que tem que ser jogado. Não é por que alguém jogou na NBA ou na Europa é que esta qualificado a querer todas as bolas. Por favor! Pivô tá lá pra pegar rebote. Tá lá pra marcar. Tá lá pra fazer bloqueio e se sobrar faz algumas cestas. É isso que eu espero dos nossos pivôs, que é grande força da seleção brasileira. Se os nossos alas, alinhas e armadores, etc. souberem que lá embaixo tem pivôs hábeis e que podem jogar bom basquete e os pivôs estarem sabendo seu papel qual que é (nós somos) nós temos condições de lutar pelas 4, 5, no máximo, lugares no mundial. Eu sei disso. Tenho certeza. Basta que todos se concentrem.
 É por declarações desse tipo, querendo que os atuais jogadores perpetuem uma forma errada de jogar e por ter efetivado isso na seleção e nos clubes por onde jogou que já definiram Oscar como o “único jogador que conseguiu transformar um esporte coletivo em individual...".
Eu considero isso um absurdo. Talvez Oscar não perceba como os brasileiros o enxergam, o ídolo que ele é, ou talvez, por se ver como um ídolo queira impor seu método fracassado de jogar basquete – ele é meu ídolo pela forma apaixonada e guerreira que jogava cada segundo com a camiseta da seleção, nem tanto pelo desempenho em quadra (eu sempre gostei mais de Guerrinha, Pipoka, Israel, Nilo, Carioquinha, Marcel...). Com certeza Oscar precisa observar outros ídolos, como Pelé, Tostão, Michael Jordan ou mesmo aqueles (Israel, Rolando e Cadum) que ele trata no vídeo como serviçais de sua capacidade de pontuar – que nem era lá essas coisas. Hoje compreendo o que passaram Gerson, Pipoka, Israel, Rolando, Cadum, Guerrinha... Muitas vezes Oscar se impôs pelo espírito guerreiro, por não desistir, por motivar e liderar o time, como no Pan de 1987 que não valorizamos sua imaginária superioridade ante os demais colegas de equipe. Muitas vezes ele nos irritou pelo exemplo negativo perante árbitros, colegas de equipe e adversários. Isto visto em jogos pela TV e em jogos vistos in loco (finais do brasileiro entre Corinthians SP e Corinthians SC e jogos amistosos da própria seleção), mas a mídia nos empurrou o total de pontos que ele marcou e o transformou em herói. Nós tínhamos um grande time nos anos 1980 (lembro-me de Guerrinha, Nilo, Cadum, Marcel, Maury, Israel, Josuel, Pipoka, Rolando...) e não ganhamos tantos jogos e tantos títulos como merecíamos. Comparando alguns dados para essa postagem percebi o porquê: individualismo exacerbado.
Seleção, em minha humilde posição de ex-atleta de base, educador e técnico do interior, penso que é o conjunto dos melhores jogadores e não 11 serviçais trabalhando duro para o sucesso de apenas um. Talvez Oscar tenha sido incentivado a pensar no próprio êxito e esquecer o que há de mais lindo no esporte: a coletividade como sinônimo de equipe e a superação que leva ao sucesso – vitórias. Quem se sente preterido, subvalorizado não consegue dar o máximo de si, pois não se enxerga capaz de ir além do que esperam dele – talvez o esforço de Isarael nos rebotes fosse para dizer: “hein, quero jogar no ataque! Passa uma bola” ou a marcação feroz de Cadum significasse: “eu me estraçalho para marcar, me deixa ter o prazer de atacar, de pontuar algumas vezes, mesmo que não pontue tanto quanto você Oscar” (para mim esse é o grande prazer do basquete). Ao contrário disso só se alguém acreditar que atletas são super-heróis – no sentido de possuírem poderes especiais – e não seres humanos. Será que algum leitor acredita nessa hipótese?
Por outro lado Oscar reconhece – e eu também aceito isso, mas valorizo mais os técnicos brasileiros – que Rubén Magnano é um dos grandes técnicos do mundo – eu acrescento Hélio Rubens nessa lista – e que sabe o que esta fazendo. Então vamos falar da Argentina no Mundial de 2002 e Jogos Olímpicos de 2004? Vejamos**:

  • No Mundial de 2002, quatro jogadores fizeram mais de 100 pontos na competição, um deles era Center/pivô (2,08m), dois eram alas-pivôs (2,03m e 1,93m) e um era escolta (1,98m);
  • Cinco jogaram mais de 20 minutos por jogo e quatro jogaram entre 16 e 20 minutos por jogo, ou seja, os nove (09) atletas que mais jogaram ficaram entre 13 e 24 minutos no banco, em média – isso mostra coletividade, pois ninguém foi absoluto;
  • Os demais (três atletas) jogaram quase 8 minutos por jogo e contribuíram com 8,8% dos pontos da Argentina na competição;
  • Quem mais pontuou (127 pontos) foi o armador e o segundo maior pontuador, com 120 pontos, foi o pivô;
  • Média de idade de 25,83 anos, sendo o mais velho com 31 anos e o mais novo com 22 anos (Scola);
  • Média de altura (trabalho de garimpo, segundo Sérgio Hernandez, atual técnico da Argentina) de 1,98m, sendo o mais alto com 2,08m (o pivô titular) e o mais baixo com 1,82m (o armador reserva);
  • Para os jogos olímpicos de 2004, apenas duas mudanças: saíram Leo Palladino e Lucas Victoriano e entraram Walter Herrmann e Carlos Delfino;
  • Essas duas trocas aumentou a média de altura para 2,00m e baixou a idade para 24,91 anos;
  • Entre os cinco principais cestinhas da Argentina: um era o pivô (5), outro era o pivô de força (4), dois alas (3) e um escolta (2);
  • Nos rebotes, os destaques foram: dois pivôs (5), um pivô de força (4), um ala (3) e um armador (1);
  • Nas assistências os destaques foram: Um armador (1), dois escoltas (2), um ala (3) e um pivô (5);
  • A Argentina utilizou 22 atletas do Mundial de 2002 aos Jogos Olímpicos de 2008;
  • Somente cinco destes participaram das quatro competições: Fabricio Oberto, Emanuel Ginobili, Luis Scola, Andrés Nocioni e Leo Gutierrez;

·        Percebe-se que a seleção  (escolhidos entre os melhores) de Magnano – elogiada por Oscar – foi montada para jogar de forma coletiva, em prol dos objetivos do jogo: pontuar mais que o adversário, determinar o limite de pontos que poderá sofrer abaixo da meta ofensiva, óbvio, e evitar a concentração da defesa adversária em um ou dois jogadores, mas tornar toda a equipe uma ameaça para a defesa adversária . O resumo acima mostra isso: coletividade.
Então, no jogo coletivo da Argentina, comandada por Magnano, o armador e o escolta pegam rebotes, os pivôs e os alas fazem assistências e todos pontuam. Foi assim que a Argentina chegou ao segundo lugar no mundial de 2002 e a medalha olímpica de 2004 – depois disso ainda ficaram em quarto lugar no mundial de 2006 e bronze nos jogos de Pequim/2008.
Enquanto isso, pagamos a conta da era da individualidade e se deixarmos continuaremos com essa herança por muitos anos. Penso que precisamos desmistificar o dito mito e cairmos na real: Oscar foi medíocre! Vejam Oscar em 1996, nos Jogos Olímpicos de Atlanta, comparando com Giniboli em 2004, Jogos de Atenas, pois foram os líderes de suas seleções – vou procurar minha superbasket que destaca as estatísticas dos jogos dos atletas e que mostra os índices baixos do Oscar (foi lá que me dei conta, pela primeira vez, do custo/benefício do “mão santa”):

  • Oscar jogou, em média, 32,9 minutos – Ginobili 29,87 minutos por jogo;
  • Oscar marcou 219 pontos – Ginobili marcou 156 pontos;
  • No Brasil o segundo e o terceiro cestinhas marcaram 83 pontos cada e na Argentina 141 e 80, respectivamente;
  • Oscar acertou 47,5% dos arremessos de 2 pontos – Ginobilli teve 70,8% em 2004;
  • Oscar acertou 38,1% dos arremessos de 3 pontos – Ginobili teve 40,5% em 2004;
  • Oscar acertou 95,3% dos lances-livres – Ginobili teve 80,4% em 2004;
  • Na média geral Oscar arremessou 166 vezes, converteu 69, ou seja, 41,6% das tentativas;
  • Ginobili arremessou 85 vezes, converteu 49 vezes, totalizando 57,6% das tentativas;
  • Oscar deu 8 assistências (1 por jogo), em toda a competição – Ginobili deu 26 assistências (3,25 por jogo);
  • Oscar pegou 25 rebotes (3,12 por jogo) – Ginobili pegou 32 rebotes (4 por jogo) e é mais baixo que Oscar.


Ginobili arremessou um menor número de vezes, marcou menos pontos, pegou mais rebote, deu três vezes mais assistências e ficou menos tempo em quadra. Ou seja, foi mais produtivo para a sua seleção por que seu aproveitamento foi superior ao de Oscar.
Portanto, é o momento de pensar na seleção brasileira como a seleção dos melhores do Brasil, onde podemos ter o pivô que sabe dominar nos rebotes, mas também pontuar no ataque. Também o armador que sabe dar assistência e pegar rebotes. Ala que saibam arremessar de média distância e jogar no poste médio com a propriedade de um pivô. Assim como foi na Argentina nos últimos oito anos. Versatilidade e coletividade precisam ser as principais armas de nossa seleção, já que podem escolher quem vestirá nosso uniforme, diferente dos clubes, onde o jogo centraliza-se em 2, 3 ou 4 jogadores.
__________________________________
Isso ocorreu na quarta-feira a noite e resolvi pesquisar os dados que divulgo nessa postagem.
** Dados baseados nas estatísticas contidas nos sites da FIBA relativos a cada uma das competições. São eles: Campeonato Mundial 2002Jogos Olímpicos de 2004Campeonato Mundial de 2006Jogos Olímpicos de 2008 e Jogos Olímpicos de 1996.

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